quarta-feira, novembro 04, 2009

Câmbio e a (eterna) briga entre ortodoxos e heterodoxos

A recente sinalização do governo em relação ao ingresso de capital expõe que seu desejo não tem vínculo direto com a elevação das receitas, mas com uma possível apreciação cambial advinda do ingresso de capital tratado como "especulativo".

O que é de se estranhar é que o valor da taxa parece ter mais uma função simbólica do desejo que o governo tem do que efetivamente tentar frear o tal capital especulativo. Isso me lembra uma situação em que uma pessoa decide fazer algo e, no meio do caminho, questiona seu ato, resultando em algo pífio! Em outras palavras -- para não deixar muito confuso --, o Ministro Guido "Coalhada" (como ironiza meu tio!) adoraria taxar o ingresso de capital (com taxas elevadas), mas não pode fazê-lo da maneira que gostaria, resultando em algo insatisfatório para aqueles que acreditam que a taxação é ruim e, inclusive, para seus próprios objetivos!

Para auxiliar a leitura de muitos que não entendem alguns possíveis motivos que levam o Ministro a acreditar que um câmbio apreciado pode se traduzir em um resultado ruim para o país, vale atentar para uma idéia que norteia boa parte de correntes keynesianas.

Algumas correntes de pensamento -- a uma delas nosso ministro parece ter alguma afeição -- que têm base nos ensinamentos keynesianos acreditam que:
1) O PIB é resultado da demanda.
2) Dentre os componentes, o mais relevante é o de demanda externa.
3) Dito isso, fica fácil de concluir que um país precisaria gerar superávits na Balança Comercial (Exportações - Importações > 0) que permitissem elevar o PIB.
4)E como chegar a esse resultado? Criando maior competitividade para o setor exportador via preços (câmbio!).
5) Outro elemento que geralmente aparece junto ao argumento de depreciação do câmbio é que se faz necessária uma Política Industrial que viabilize uma reestruturação da indústria em favor das indústrias de elevada tecnologia ou que permitam agregar valor! Essa última idéia advém da interpretação de que existe um contexto de desigualdade em favor dos países ricos. E essa desigualdade tende a ser perpétua caso não seja quebrada a dependência de países pobres em relação aos ricos explícito nas relações de consumo externo.

Isso auxiliará no entendimento de parte das discórdias que economistas ditos "desenvolvimentistas" têm com relação a seus pares ortodoxos.

Dois artigos interessantes publicados recentemente que abrangem a questão cambial são (fico devendo um artigo que defenda o oposto):

(i) do economista Ilan Goldfajn, publicado no Estadão de hoje (terça, 03/11/2009), entitulado "O câmbio e o equilíbrio macroeconômico":
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091103/not_imp460248,0.php

(ii) do economista Alexandre Schwarstman, publicado em seu blog "A Mão Invisível":
http://maovisivel.blogspot.com/2009/11/cambio-e-politica-fiscal_9806.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário