Aparentemente nossos hermanos têm se situado "do outro lado da força" quando o assunto é economia.
O que antes eram apenas notícias envolvendo políticas industriais impostas pelo governo argentino, agora envolve o BC.
Isso... não se assuste! "BC", aqui, se refere, literalmente, a Autoridade Monetária (o Banco Central).
Saiu no noticiário (no caso uso como referência a notícia do Estado de S.Paulo (05/02/2010), publicada logo abaixo dos comentários -- assim como já tinha sido indicada um dia antes neste mesmo jornal) a confirmação de que Marcó Del Pont é a nova presidente do BC Argentino.
Fato inusitado! Sem dúvida... mas em dobro.
Primeiro por se tratar de uma mulher no comando da maior autoridade monetária de um país. Em segundo lugar por se tratar de uma economista heterodoxa assumindo um BC em tempos em que a corrente dominante é ortodoxa.
A Argentina provavelmente enfrentará mais dificuldades -- agora no campo da inflação -- caso a então presidente (que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso argentino) resolva sancionar o uso das reservas argentinas para quitar as dívidas do país com credores internacionais que têm vencimento previsto para este ano.
Vale dizer que a permissão do uso das reservas pode não ter implicações pontuais apenas, mas de longo-prazo, na medida em que funcionaria como uma espécie de permissão para quaisquer problemas que emergissem na nos campos argentinos.
Alguns devem estar se lamentando pelo fato. Eu, pelo contrário, procuro ver o lado positivo nisso -- não aquele que muitos devem ter pensado: a rivalidade. É de conhecimento geral dos economistas que o tal laboratório econômico não funciona -- pelo menos no campo macroeconômico -- quando bem queremos. Ou seja, não podemos, simplesmente, fazer experimentos com o mundo real para que possamos extrair evidências que contribuam para testar teorias. Basicamente o que se faz no campo da economia é realizar inferências a partir de situações vividas -- por países diversos -- de tal forma consigamos usar as informações obtidas nessas circunstâncias com o objetivo de adequar as políticas ao que se supõe ser correto.
Eu diria que é, por esse lado positivo que menciono, uma felicidade para nós economistas vivenciar tais experiências de perto -- agora me refiro não só ao que ocorre na Argentina, mas a crise global que estamos presenciando --, pois serão elas que nos permitirão adequar nossas políticas mais a frente. Por isso digo, "Avante Argentina!"
Fiel ao kirchnerismo, Marcó del Pont assume defendendo maior intervenção do Estado
"Acredito na autonomia operacional do Banco Central, mas não em sua independência total." Com essas palavras, a economista neokeynesiana Mercedes Marcó del Pont iniciou ontem sua gestão à frente do BC argentino, mostrando total alinhamento com a presidente Cristina Kirchner.
Marcó del Pont é conhecida por suas posições favoráveis à interferência do Estado na economia e defende o "aprofundamento" do modelo econômico da administração Kirchner. Seu antecessor foi o ortodoxo Martín Redrado, removido por Cristina por discordar do uso de reservas do BC para o pagamento de US$ 6,5 bilhões da dívida pública que vence neste ano.
Marcó del Pont disse que "a política econômica (do governo Kirchner) é consistente", fato que permitiu à presidente Cristina manter "o nível de reservas, o crescimento econômico e a expansão do mercado interno e das exportações". Ela relativizou a importância das reservas do BC ao afirmar que elas são "uma consequência da política econômica, e não a causa disso".
A economista afirmou que a política monetária e cambial aplicada nos últimos anos pela administração Kirchner "será mantida". Além disso, ela descartou os rumores existentes sobre uma eventual desvalorização da moeda, embora seja uma conhecida partidária de um dólar alto que estimule as exportações e a produtividade industrial.
Sua nomeação ainda deverá ser confirmada - ou rejeitada - pelo Senado. No entanto, os analistas políticos destacam que a discussão na Câmara Alta entre o governo e a oposição poderia levar vários meses. Enquanto isso, ela terá poderes totais para exercer suas funções, com o respaldo da presidente Cristina.
A nova chefe do BC é considerada "ultra-kirchnerista" pela oposição. Mas, apesar das divergências existe uma opinião positiva sobre sua capacidade acadêmica. Ela é considerada uma pessoa com a qual "é possível dialogar". Além disso, não está envolvida em suspeitas de corrupção, ao contrário de boa parte dos políticos ligados ao casal Kirchner. Julián Guarino, colunista do jornal El Cronista disse que Marcó del Pont tem uma personalidade "obstinada" e quer a presença do Estado "até em um prato de sopa".
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