quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Moody´s e a ilusão monetária

Em artigo publicado, no Valor Econômico -- no caderno de Finanças, dia 04/02/2010 --, intitulado "Moody´s coloca rating dos EUA sob pressão", a agência de classificação de risco Moody´s adota uma postura que pode soar como o fim dos tempos (afinal de contas, o que seria do mundo caso a referência mundial fosse punida?).

Mas, quem refletir um pouco se questionará o que isso realmente implicaria...
Será que os efeitos seriam assim tão devastadores? Nem tanto, eu imagino.

(i) Afinal de contas, as notas são conceitos relativos. Ou seja, caso haja algum rebaixamento da nota dos títulos da dívida norte-americana, os EUA continuariam a ter os títulos mais seguros do mundo, tendo como efeito uma mera redução dos riscos relativos aos títulos mais seguros (dos EUA). Isso só seria diferente caso a mudança da nota implicasse que outra nação assumisse o posto dos EUA.

(ii) Aí entra meu segundo argumento... a Moody´s não teria coragem de substituir os títulos dos EUA por, por exemplo, China ou UE. Isso se segue do seguinte fato: o dólar ainda é a moeda forte do mundo. Grande parte das reservas do mundo está vinculada ao dólar.

Concluindo, na minha opinião, isso não passa de uma estratégia desesperada da Moody´s para tentar reestabelecer parte da sua credibilidade dissipada na crise.

Isso me faz lembrar dos efeitos de ilusão monetária de Friedman. A ameaça da Moody´s não tem fundamentos. O que faz dela uma mera ilusão...




Moody's coloca rating dos EUA sob pressão

Autor(es): Michael Mackenzie e Gillian Tett, Financial Times, de Nova York e Londres
Valor Econômico - 04/02/2010

A Moody's Investors Service lançou um aviso, ontem, segundo o qual a classificação de crédito soberano "AAA" dos EUA poderá ficar sob pressão, a menos que o crescimento econômico seja mais forte do que o esperado ou que medidas mais duras forem tomadas para combater o déficit orçamentário do país.

Em decisão que acompanha o crescimento da preocupação entre os investidores sobre o déficit americano, a Moody's afirmou que o país tem uma trajetória de crescimento da dívida "evidentemente em alta sustentada".

Steven Hess, diretor sênior de crédito na Moody's, disse que o déficit projetado na perspectiva orçamentária apresentada pelo governo Obama nesta semana não estabiliza os níveis de endividamento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). "A menos que novas medidas sejam tomadas para reduzir ainda mais o déficit orçamentário ou que a economia reaja de forma mais vigorosa do que o esperado, o quadro financeiro federal, tal como apresentado nas projeções para a próxima década, em algum momento exercerá pressão sobre a pontuação de crédito 'AAA' dos títulos do governo", disse Moody's em nota sobre emissores de títulos.

Nesta semana, a Casa Branca previu déficit orçamentário de US$ 1,565 trilhão para 2010, o que representa 10,6% do PIB e é a proporção mais elevada entre dívida e PIB desde a Segunda Guerra Mundial. Embora haja previsões de estreitamento do déficit orçamentário, para cerca de 4% em 2013, isso, em parte, se baseia em que o crescimento econômico não caia abaixo das expectativas do governo e que o Congresso concorde com aumento de impostos e congelamento de gastos com despesas discricionárias não relacionados com segurança. O crucial está nas projeções de que a dívida total em relação ao PIB americano passarão de 53% em 2009 para 73% em 2015 e 77% até 2020.

A Moody's, no entanto, diz que isso subestima o nível de endividamento geral americano. "Utilizando a medida geralmente usada por governos internacionalmente - incluindo governos estaduais, municipais e o governo federal -, essa proporção será bastante superior a 100% em 2020." A questão do risco soberano dominou muitas discussões no Fórum Econômico Mundial de Davos na semana passada. Embora muita atenção estivesse centrada na crise fiscal grega, preocupações foram também expressas quanto às perspectivas em países como os EUA e Reino Unido.

"Todo mundo tem razão para, neste momento, estar preocupado com a economia americana e seu dólar", disse Tony Teixeira, vice-diretor da Government of Singapore Investment. "Continuamos julgando que a economia dos EUA é a mais diversificada e resiliente no mundo, mas está passando por um momento difícil." No centro das preocupações, a questão é se países como os EUA, com o seu crescente peso da endividamento, têm a vontade política, ou a percepção consensual, para tomar medidas decisivas para reduzir a dívida.

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