8 de fevereiro de 2010 | 19h17
Celso Ming
Hoje o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner, desautorizouuma das mais importantes agências de classificação de risco, a Moody’s, ao afirmar, em entrevista à rede de TV norte-americana ABC,que jamais os títulos de dívida do Tesouro do país(T-bonds, também conhecidos por treasuries) perderão o rating AAA (cotação máxima).
Até aí já havia rolado uma longa história. Quinta-feira, em relatório, a Moody’s avisou que os T-bonds corriam o risco de serem desclassificados em consequência da forte deterioração fiscal dos Estados Unidos.
A Moody’s é uma dessas agências que se encarregam de examinar a qualidade de um título. Seu objetivo é avaliar as condições que tem uma dívida de ser paga pelo devedor no dia do vencimento, de acordo com os termos de contrato.
É perfeitamente compreensível que a mais importante condição que um devedor tem de honrar seus compromissos de dívida seja a saúde de suas finanças. No caso de um país, essa condição é determinada pela robustez fiscal.
De acordo com a Moody’s, a relação entre a dívida do Tesouro norte-americano e a receita do governo federal recuará de 429% no ano fiscal de 2010 para 394% em 2020, nível excessivamente elevado que não dá mostras de melhora confiável.
As principais agências de classificação de risco, entre as quais está a Moody’s, têm sido fortemente criticadas por graves vícios de procedimento e por uma série de avaliações desastrosas.
O vício de procedimento é o de que as avaliações dessas agências são pagas por quem as encomenda, ou seja, os próprios interessados na qualidade dos títulos. As coisas são assim desde que esse serviço começou a ser feito e não se vê nenhuma iniciativa para mudá-las.
As avaliações desastrosas ficaram escancaradas a partir de setembro de 2008, quando as autoridades e os próprios bancos passaram a dar tratamento de ativos podres a títulos de dívida cuja excelência havia sido reconhecida até dias antes por essas agências.
Quando vem a público e afirma com todas as letras que o rating dos T-bonds, títulos que o mercado considera como referência (benchmark), pode ser rebaixado por causa das dúvidas sobre a capacidade de solvência dos Estados Unidos, a Moody’s parece empenhada em recuperar a credibilidade que ficou abalada.
Rebaixar o T-bond significa reconhecer que centenas de outros títulos públicos e privados, como os da dívida da Alemanha, da Suíça, do Canadá ou da Microsoft (cuja confiança não foi até agora questionada), podem ter qualidade melhor do que a atual referência global.
Mas, se o secretário do Tesouro norte-americano avisa que o alerta da Moody’s é descabido e que jamais os treasuriesperderão o selo AAA, mais uma vez as avaliações da Moody’s são duramente questionadas.
E Geithner não deixa de ter a lógica a seu lado porque, apesar da dívida gigantesca e do rombo orçamentário colossal, os Estados Unidos detêm a prerrogativa de emitir a quase única moeda internacional de reserva.
Quer dizer, se houver uma rejeição dos treasuries pelos credores, em última instância os Estados Unidos os resgatarão com emissão de dólares.
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